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segunda-feira, 25 de julho de 2011

# 86

« eras tão diferente de mim , tão diferente daquilo a que estava habituada ! e , estranhamente , estupidamente talvez , dei comigo a sentir uma espécie de segurança , de conforto desconhecido , naquele entendimento que impuseste para que não vinha preparada : tu guiavas e eu animava-te , tu decidias e eu apoiava , tu cozinhas e eu punha a mesa . e , agora , tu adormecias como uma pedra , destroçado e exposto sem defesas , e eu deitei-me ao teu lado e abracei-te . não , não era disto que eu estava à espera : não estava à espera de te ver assim , caído sem defesa nem disfarce , e de sentir esta vontade incrível de me encostar a ti , como se tu fosses uma parede e eu o seu contraforte . (...) mas foi então que percebi que não eras apenas tu que me protegias , mas que também tinha que te proteger : também tu precisavas de mim ao teu lado , das minhas conversas ou do meu silêncio ; dos nossos risos e gargalhadas ou dos nossos amuos e discussões ; da minha mão , quando estendias a tua só para sentir que não estavas sozinho (...) »

in No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares

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